Expedição Amazônia: pelos rios Araguaia e Tocantins

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A Expedição Amazônia partiu de Aruanã na manhã de segunda-feira, 15/08/2011 e após 21 dias de viagem, aportou em Marabá, no Estado do Pará, às 16:10h., de domingo, dia 04/09/2011, após percorrer aproximadamente 1.500km pelos rios Araguaia e Tocantins.

Idealizada por José Olegário, que suportou o custo e a logística do empreendimento, tinha como objetivos levantar dados, colher impressões, prospectar as condições atuais do rio Araguaia em seus mais variados aspectos - ecológicos, físicos, turísticos, sociológicos... - formando uma base de conhecimento que de uma forma ou outra pudesse ser utilizada, tendo como foco a preservação e a sustentabilidade do bioma Araguaia.

A ausência de apoio e/ou patrocínio institucionais, públicos ou privados, talvez tenha limitado um pouco as possibilidades. Mas não inviabilizou a riqueza de informações que foram colhidas com a observação direta da realidade vivida nas beiras do rio. Visitamos cinco aldeias indígenas, todas da etnia Karajá, conhecemos diversas localidades ribeirinhas, conversamos com chefes indígenas, funcionários públicos, pescadores profissionais, barqueiros, pilotos, comerciantes, moradores... Uma radiografia, ainda que modesta, da atualidade no Araguaia.

Aos poucos vamos montando o panorama que vivenciamos... texto, imagens, vídeo... Venham conosco conhecer esta história!

Alvaro Coutinho
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Levantamos cedo e, cumpridas as formalidades do início da manhã, nos pusemos a caminho às 07:10h. pois acreditávamos que, mesmo enfrentando as dificuldades de ter que progredir em terreno desconhecido e cheio de pedras, podíamos chegar ao final da viagem ainda nesse domingo.

A manhã está um tanto nublada, o que pode representar mais um dificultador - a chuva -. Na véspera, observamos algumas luzes adiante, no que parecia a princípio ser uma minúscula povoação, do lado esquerdo do rio. Ao reabastecer o tanque de combustível, o piloto constatou que teria havido um erro na última aquisição de óleo 2T. Faltava um frasco de 500ml, para misturar ao último galão.
Rumamos para a suposta povoação, com o intuito de obter ou o óleo faltante ou a indicação de onde podíamos adquiri-lo. Ao nos aproximar, vimos que se tratava de um grande acampamento de pescadores e não uma vila. Não foi possível conseguir obter o óleo. Seguimos em frente.

Mais adiante nos deparamos com mais um travessão, em uma curva do rio. Para nossa sorte, vinha subindo uma canoa, o que nos orientou para o lugar correto onde descer. O piloto da outra embarcação ainda nos orientou por onde passar nas próximas rasuras e quais as possibilidades de encontrar o óleo no caminho para Marabá.

Prosseguimos e por volta de 10:40h. passávamos pela confluência do Araguaia com o Tocantins, o que também representava o final do rio Araguaia. Dali em diante, navegávamos o rio Tocantins e estávamos a menos de 50km de nosso destino final; Marabá.

Com relação ao encontro das águas do Araguaia e Tocantins cumpre dizer que é, no mínimo curioso, o fato de o segundo ter uma largura bastante inferior àquele que ali encerra seu curso. Teria sido muito mais razoável que o Araguaia recebesse o Tocantins, e não o contrário. Mas, há muito mais coisas inexplicáveis nesse nosso imenso e, não raro, controvertido país...

Passamos a barra e logo adiante começavam as pedreiras e travessões, na entrada de São João do Araguaia, que fica bastante próximo da confluência citada. É necessário fazer uma volta para entrar no porto da cidade; passar um travessão e se aventurar por entre inúmeras pedras, visíveis e submersas, até encostar na margem.

São João é uma cidade pequena, no lado paraense. Agora, temos na margem esquerda ainda o Pará, mas na direita é o Estado do Maranhão que margeia o Tocantins, por onde já navegamos há alguns minutos. O rio é também bastante largo após receber o Araguaia, mas o leito é uma mistura de areia e pedras, o que por aqui chamam de "gorgulho". Navegação difícil e perigosa, pois basta uma distração do piloto para transformar uma viagem tranquila em autêntico pesadelo.

Paramos em São João do Araguaia e o Olegário, Paladini e o Chicão (o piloto) foram até o miolo da cidade, em busca do óleo 2T. Compraram o produto e também trouxeram gelo em escamas e cerveja. Prosseguimos a viagem, por entre as muitas pedras que praticamente conformam todo esse trecho de rio. Mais abaixo, saímos em um trecho com menos pedras, mas nem por isso tão tranquilo assim. Vez por outra, travessões deixavam claro que não seria possível relaxar na atenção e cuidados.

Nessa batida, navegamos por mais algumas horas, e nesse dia, domingo, não paramos para almoçar. Havia alguma tensão em relação ao final da viagem, já bastante próximo. Assim, por volta de 14:30h., chegamos ao travessão conhecido como Mãe Maria, de onde já é possível avistar as torres de transmissão da Eletronorte, vindas de Tucuruí, e possíveis torres de comunicação de Marabá. O final estava a apenas pouquíssimas horas...

Passamos Mãe Maria um tanto tensos, mas sem maiores dificuldades. Nosso piloto, após a descida das corredeiras/cachoeiras de Santa Izabel, parece ter feito uma autêntica pós-graduação em pilotagem de risco... A viagem prosseguiu, passando bem próximo a uma praia na margem Maranhense e atravessando uma série de pedreiras, ora com o rio mais rápido; ora com as águas mais tranquilas.

Dessa forma, avistamos o grande viaduto misto, rodo-ferroviário, que atravessa o Tocantins em Marabá. Estávamos chegando. Passamos o viaduto e ficamos impressionados com a imponência da bela obra da engenharia humana. Uma composição ferroviária iniciava a travessia do rio exatamente naquele momento.

Começamos por ouvir um som cavo e profundo, que parecia vir do próprio rio e nos causou de início alguma preocupação. O que era aquele ruido? Alguma queda d'água que não conseguíamos ver onde estava? Corredeira - e aí deveria ser imensa -? A dúvida, e preocupação logo se dissiparam: era um trem imenso, que começava a cruzar o rio, do Maranhão para o Pará. O Paladini contou mais de 300 vagões, puxados por duas locomotivas diesel e com mais três unidades de força intercaladas ao longo da composição. Ficamos por algum tempo apreciando o espetáculo.

Ainda sobre o viaduto, um fato curioso: é provavelmente a única via brasileira onde as mãos de direção do tráfego rodoviário de veículos está invertida, à semelhança do sistema vigente na Inglaterra. Como é feita a conversão, nas extremidades da ponte, não nos foi possível observar.

Lá estava um dos portos de Marabá, o primeiro que víamos e para onde nos dirigimos. Bem ao lado direito e um pouco abaixo do viaduto. Estava terminada a Expedição Amazônia no Araguaia-Tocantins, em sua parte aquática. Eram exatamente 16:10h de domingo, dia 04 de setembro de 2011. Estávamos cansados mas felizes com o final de uma aventura que nos levou por aproximados 1.500km de navegação, ao longo de 21 dias embarcados.

Congratulamo-nos pelo feito e logo a seguir o José Olegário desembarcou procurando localizar um primo seu, residente em Imperatriz, no Maranhão, que estava se deslocando para nos receber em Marabá. Paladini e o piloto Chicão também saíram do barco. O sistema de provimento de energia elétrica - a placa solar - havia deixado de funcionar já a algum tempo, por volta das 13:00h., enquanto ainda estávamos rio acima e a bateria do note estava baixa. Não havia como continuar editando o texto referente a esta última etapa. Fiquei apenas quieto no barco, aguardando a volta dos companheiros e a sequência dos acontecimentos.

Por volta das 17:40h. apareceu o Paladini e o Chicão, informando que o Sr.Joaquim, primo do Olegário, havia chegado e que era para descarregar apenas a bagagem de uso pessoal - roupas, etc. - pois iriamos para um hotel. O barco iria para um outro porto, uma espécie de marina, onde deveria pernoitar com o Chicão a bordo, cuidando para que tudo estivesse preservado (equipamentos, etc.).

Assim foi feito. Pernoitamos em Marabá e, logo cedo, na manhã seguinte saímos para o Olegário solucionar a questão do retorno do barco e liberar o piloto Chicão para retornar a Porto Lemes. Um outro parente ou amigo íntimo do Olegário, Sr.Sérgio, empresário em Marabá, foi crucial na solução dessa problemática e por volta de 11:00h. o barco já seguia rumo a Hidrolândia, próximo a Goiânia, onde está situada a propriedade rural do Olegário.

Havíamos sido convidados a almoçar na casa do Sr.Sérgio, em Marabá, e para lá rumamos. Almoçamos um delicioso "filé à parmigiana", preparado pela esposa do Serginho (como o Olegário o chamava) e colocamos "o pé na estrada", agora rumo a Imperatriz, onde já nos aguardavam as passagens para embarcar rumo a Goiânia, em ônibus regular de carreira. O horário do embarque seria às 20:10h.

Chegamos a Imperatriz no meio da tarde, passamos pela empresa de transportes de nosso anfitrião, onde conhecemos seus filhos e parceiros de trabalho, tomamos um bom banho na residência do Sr.Joaquim Mamédio, fizemos um pequeno tour pela cidade - bastante progressista, diga-se -, jantamos e na sequência fomos para o embarque, sempre orientados e acompanhados pelo Sr.Joaquim.

No horário previsto, embarcamos rumo a Goiânia. A previsão era de que eu ficaria em Porangatu, mais adequado e prático em razão da proximidade com meu local de domicílio - São Miguel do Araguaia -, Olegário e Paladini seguiriam até o destino final. Estava terminada nossa aventura na Expedição Amazônia.

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