Elucubrações sobre a Usina Santo Antônio


Estrutura da UHE Santo Antônio: vertedouros da margem direita
Imagem: Santo Antônio Energia
Edição Telma Monteiro

 Por Paulo Andreoli

A construção das Usinas no Rio Madeira está produzindo situações dúbias em Rondônia. Se por um lado trouxe um maior desenvolvimento para a região, principalmente para Porto Velho, também trouxe a desorganização social causada pelo enorme fluxo de pessoas que para aqui vieram trabalhar.

Hoje vivemos o caos social provocado pela falta de planejamento e gerenciamento nas obras que trariam a compensação social necessária para aplacar o impacto negativo da construção das gigantes do PAC na capital rondoniense.
Hoje assistimos impávidos alguns ataques criminosos contra nosso meio ambiente e nosso povo. Descobrimos que desmatamento, daquele que provocava gigantescas multas em produtores locais se chama “supressão da camada vegetal” e é permitido.

Também estamos assistindo o fim de um ciclo, dos ribeirinhos e sua ocupação centenária ás margens do Rio Madeira. Especificamente no Caso da UHE Santo Antonio, onde a abertura das comportas em Janeiro deste 2012, que provocou um processo erosivo nos barrancos do Madeira.

São dezenas de famílias afetadas. E pode piorar. A Construtora Norberto Odebrecht, principal empreiteira do empreendimento, em conjunto com os empresários da Santo Antônio Energia estão cogitando aumentar a barragem da Usina. Seria elevado o muro de concreto de 70,5 metros - conforme está autorizado para 71,3 metros. Numa explicação simplória, de fácil entendimento pode-se dizer que Odebrecht transformou a Cachoeira de Santo Antonio numa “Bomba Wap”, daquelas com “alta pressão” para se lavar de  carros a calçadas.

A água vem em grande volume e entra num gargalo, que provoca o aumento de sua velocidade. Sai como um spray e vai derrubando tudo a jusante do empreendimento. Isto sem nenhum estudo de impacto. Pelo menos é o que parece, já que os engenheiros “não previram” este banzeiro de fortes proporções que está acabando com mais de cinco quilômetros de barrancos, levando casas e sítios da região da cachoeira até o centro da cidade.

Os mais catastróficos falam no desaparecimento de toda a região da Baixa da União se não for feito um muro de arrimo em toda a margem atingida. Agora vem um questionamento que não quer calar. E não adianta ir perguntar ao pessoal da “Santo”. Ele não tem interesse na verdade e sim na conclusão do empreendimento, custe o que custar.

Se aumentarem a barragem teremos um lago maior. Consequentemente também irá aumentar a velocidade das águas do “Madeirão”, provocando o aumento de danos às comunidades ribeirinhas, daqui até São Carlos. Serão novos desbarrancamentos, novas retiradas de famílias ( só se movimentam  sob ordem judicial) e até a formação de novo canal navegável.

Uma carta encaminhada no ano passado  ao então ministro Lobão e também ao diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sócios da Usina de Jirau, localizada a cerca de 100km de Porto Velho,  afirmam que, " a elevação da usina à jusante para a cota 71,3 m representa, ainda, graves riscos estruturais à UHE Jirau, que passará a não atender aos índices mínimos de segurança para sua operação". E fazem uma previsão cataclísmica, "tal elevação comprometeria a segurança física das estruturas das casas de força e vertedouro de uma das maiores barragens do país, podendo acarretar um acidente sem precedentes, com severos impactos sociais, ambientais e financeiros".

Pois então, era o que faltava. Além de termos que conviver com os maus políticos, temos que dormir com um barulho deste tamanho. E não pensem que é tudo teoria. Recentemente, a construtora Norberto Odebrecht que constrói a UHE Santo Antonio foi expulsa do Equador por ter feito uma lambança na construção de uma Usina daquele país. Mas lá no país andino pelo jeito tem político “macho”. Aqui por Rondônia o que mais se vê, é “representante do povo” com uma placa de vende-se no meio da testa.

Não podemos concordar com este aumento de barragem sem a Santo Antonio Energia apresentar estudos confiáveis sobre os impactos sociais e ambientais a jusante do empreendimento. Ou já estão construindo e nem sabemos?

Concordar com tal alteração no projeto da obra sem ao menos saber o que pode acontecer é de uma irresponsabilidade sem limites. Nossas autoridades precisam sair da servidão que se instalou no meio político para com as Usinas.

Financiamentos de campanhas, caixinhas não declaradas e até pasmem, a contratação do prefeito de Porto Velho para ser caçambeiro do empreendimento e outras situações mostram que o “lobby” a favor das Usinas em detrimento ao povo mais humilde é enorme.
Resta apenas às autoridades fiscalizadoras olharem com muita atenção este caso especifico. É sério, verdadeiro e justo. Não dividem da força da natureza. Não duvidem da força do Rio Madeira.

Artigo publicado em Rondoniaovivo

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